Por: MARIA LUÍSA ABRANTES
Data: 07 / 04 / 2025
Os líderes da Administração americana tradicionalmente membros de um dos dois maiores Partidos , tem estilos diferentes de actuação e governação durante os seus mandatos . Uns são políticos por excelência , parte deles com antecedentes na governação dos Estados , outros com trajectoria legislativa , incluindo um artista de cinema ( Ronald Reagan) , mas muito bem assessorados . Donald Trump é na prática e por vocação um homem de negócios . Como tal , não é apenas conduzido pelos seus assessores . É um homem pragmático , (atrás de puros resultados , que se afastam da responsabilidade social) , aponta objetivos , traça estratégias e quer monitorar a execução.
A política da Administração Trump , contrapõe aumentos das tarifas alfandegárias ‘as importações , ‘a redução de impostos ‘as empresas e aos salários até 150 mil dólares anuais , que agrada aos eleitores . A visão seria a atração de investimento estrangeiro e o aumento da renda familiar . Todavia, as opiniões divergem , no que concerne à política de tarifas alfandegárias ( com ou sem reciprocidade) , impostas aos países da União Europeia , Canadá , México , China , Japão , outros países asiáticos , países da América Latina e da América do Sul , África , etc. . A nova politica comercial da Administração Trump , com enfoque no aumento das tarifas aduaneiras , iniciando com a aplicação de uma taxa de 25% “a importação do aço e do alumínio , vai contra e põe fim a politica de livre comércio , fiscalizada pela OMC .
A nova estratégia , visa essencialmente, a deslocalização das empresas que produzem em mercados com mão de obra mais barata e tecnologia de ponta , em particular , a China , o Canadá , o México e a Índia . Porém , essa estratégia é “uma arma de dois gumes” e , como verificamos no início do mandato , tem servido de barômetro, como base para início de negociação das tarifas alfandegárias , com avanços , recuos , reduções e suspensões .
Por essa razão , é que a Administração Trump já respondeu ao Presidente do Vietname , que independentemente do mesmo oferecer tarifa zero ( isenção) ‘a exportação dos produtos industriais aos Estados Unidos , não os fará alterar a tarifa imposta as exportações desse país , porque o fim último da imposição de novas tarifas , ( que numa primeira fase fará aumentar os custos de produção e o preço final) , será obrigar as empresas estrangeiras a produzir naquele país , aumentando os postos de trabalho numa 2a. fase . Esta resposta seria extensiva também a União Europeia, a Singapura e ao Zimbábue, que também ofereceram tarifas zero aos Estados Unidos (isenção de tarifas alfandegárias ‘a importação de produtos industriais ) .
Nessa luta de gigantes, por enquanto, a China e o Canadá retaliaram . Inicialmente Trump “atirou para a mesa ” 50% de tarifa alfândegaria para as exportações da China , para medir a ” pulsação ” . Mediante a resposta firme de reciprocidade da China , aumentou mais 34% a tarifa da China ‘a exportação , que de imediata veio anunciar a reciprocidade . Manteve os 25% de tarifa à exportação ao Canadá , que anunciou tarifa igual ‘as exportações dos produtos americanos e atribuiu taxa idêntica ao México . O Canadá já anunciou possíveis deslocalizações de empresas para o México . Há ainda a agravante de utilizarem muito mão de obra de estrangeira , que se tornou escassa devido a politica anti-imigrante da nova Administração .
Nesta guerra tarifária , só as economias bem estruturadas e mais fortes se equilibrarão a curto prazo ( até 2 anos ) . Paira contudo a incerteza , quanto aos resultados de médio prazo ( 2 a 4 anos) , para cada uma das maiores economias do mundo , assim como para com as economias dos países emergentes .
Não nos devemos esquecer, que grande parte dos equipamentos produzidos nos Estados Unidos , são o resultado de uma produção em cadeia , sendo muitos dos componentes produzidos sobretudo na China , Canadá e México .
O prognóstico do resultado da primeira fase da estratégia da Administração Trump , foi o aumento dos postos de trabalho , o aumento da inflação interna e a turbulência da bolsa de valores , que está a acontecer . Esta primeira fase está longe de terminar . Entretanto , a médio prazo , mediremos melhor as consequências e a correlação de forças das diferentes economias .
Os países da União Europeia foram apanhados desprevenidos , devido a longos períodos de políticas fiscais ousadas e políticas comerciais protecionistas , mas prometeram reorganizar-se .
O Japão é um dos maiores investidores directos estrangeiros nos Estados Unidos de América , sobretudo na indústria automotiva . Nesse país , 9 em cada 10 empresas entendem que o aumento das tarifas alfandegárias a médio e a longo prazo , serão ruinosas para a economia de ambos países .
O Japão , é actualmente , o maior credor dos Estados Unidos , que lhe deve cerca de USD 1,0793 trilhão de dólares , ultrapassando já a China ( USD 768,4 bilhões) . A China reduziu parte da dívida desse país, em Janeiro ( USD 18,6 bilhões) , Fevereiro (USD 22,7 bilhões ) , Março ( USD 7,6 bilhões) e Dezembro de 2024 ( USD 9,6 bilhões) .
O Japão , como resposta ao aumento de tarifas impostas pela Administração Trump , iniciou a deslocalização das suas empresas HONDA e NISSAN , daquele país para o México , Canadá , Tailândia e Malásia . Em simultâneo , a semelhança da China , decidiu desfazer-se de uma grande quantidade de dívida dos Estados Unidos , vendendo 30 bilhões de dólares em obrigações do tesouro . A venda de grande quantidade das obrigações do tesouro americano pelos governos chinês e japonês , tem como objectivo tentar proteger as suas moedas ( yuan e iene ) da desvalorização face ao dólar , em virtude da Administração Trump estar a aumentar a emissão de títulos de tesouro , para evitar a desvalorização da moeda americana .
Sem grande supresa , as multinacionais americanas começam a migrar . A APPLE pretende deslocalizar a fábrica de IPHONE para o Brasil , a quem os Estados Unidos impuseram uma tarifa igual de 10% . A China , pretende comprar mais soja e madeira do Brasil , em detrimento da aquisição aos Estados Unidos . a China , pretende ainda deslocalizar algumas das suas empresas dos Estados para o Canadá e para a Índia .
No caso de Angola , foi imposta uma tarifa alfandegária ‘a exportação de 32% , contra 63% fixados ‘as importações . ‘A semelhança da maioria dos países africanos , lamentavelmente , é uma pena que tenhamos desperdiçado cerca de 25 anos ( desde 2000) , a possibilidade de exportar para os Estados Unidos , com tarifa zero ( isenção de tarifas alfandegárias) , por estarmos abrangidos pela AGOA-Lei do Crescimento e Oportunidade para África . Esta lei ainda está em vigor até Agosto de 2025 , com possibilidade ( escassa) de renovação . Só nos poderemos queixar da nossa incapacidade e incompetência . As empresas petrolíferas que há 25 anos beneficiam da mencionada isenção de tarifas alfandegárias da AGOA , são as únicas que agradecem.