Por: MARIA LUÍSA ABRANTES
Data: 01 / 05 / 2023
Os preços do petróleo e os meios de pagamento, continuam a dominar a geopolítica e a economia global , rumo a uma nova ordem mundial , acompanhando políticas , que à boa maneira da ” comon law” ignoram códigos ” apertados ” e assentam nas negociações .
Ainda que , devido ao aumento da inflação e das taxas de juros nos Estados Unidos de América, ( cuja moeda é a referência para a comercialização do petróleo e de outras ” commodities” ) , os preços do petróleo sejam voláteis (por causas objetivas e subjectivas ) , podem operar-se fortes quedas nos preços , mas eles tendem a recuperar . Poderemos observar que desde o dia 28 de Abril último, existe uma recuperação dos preços por barril , oscilando entre os 78,80 dólares e os 80,33 dólares no caso do Brent .
Os preços do petróleo tem sido afectados pelos os cortes de produção da OPEP , do gás russo e pelo aumento do custo de produção, obrigando os países da União Europeia a retomar o investimento na produção de energia fóssil ( energias sujas ) . Por outro lado , o crescimento da população obriga o consumo e impele à concentração da riqueza ( mal distribuída) , apela à concorrência , pressionando a produção e o mercado , que obrigara’ a uma baixa da taxa de juros . Se a taxa de juros for operada por intervenção do Estado ( regulação ) , nem sempre será acompanhada da baixa da taxa de inflação .
Os países da União Europeia , apoiados por outros países signatários do Tratado de Paris ( acordo mundial que entrou em vigor a 4/11/2016 , para redução do aquecimento global abaixo de 2% , até 1,5% durante 100 anos ) , apresentaram uma estratégia de redução de 55% de emissões de dióxido de carbono até 2030 , a partir de 2020 , difícil de cumprir .
Todavia , diversas vezes manifestei o meu cepticismo , afirmando que a utilização prioritária do petróleo escasso como meio energético de produção , ainda seria longa e o preço do petróleo ainda que baixasse , tenderia a subir . A dependência dos combustíveis fósseis não apenas nos países em desenvolvimento , mas também nos países emergentes e até nos países desenvolvidos , prolongar-se-a’ por muitos mais anos do que foi proposto , para ser o período de transição para as energias limpas .
Essa afirmação prende-se com as seguintes constatações :
1. Durante o período de COVID 19, a produção de petróleo e gás enfrentaram uma enorme quebra de produção , que impactou negativamente a produção , ainda que esta tivesse abrandado também devido à pandemia. Como consequência , o preço do crude foi afectado , obrigando o Presidente Trump a intervir , decidindo comprar todos os carregamentos de petróleo quando o preço atingiu valores negativos .
Como resposta , para que o preço de venda do petróleo recuperasse , os membros da OPEP e seus aliados , iniciaram os cortes e desde essa altura raramente aumentaram a produção ( exceptuando dois aumentos pouco significativos ) . Os países membros da OPEP tem vindo a privilegiar a política de cortes sucessivos, para mitigar os prejuízos anteriores , que levaram ao não investimento na pesquisa , desenvolvimento e produção de petróleo e da construção de gasodutos petrolíferos .
Entretanto , os americanos tinham abandonado a produção de petróleo de xisto , que necessita de algum petróleo para o efeito , porque o seu custo de produção , acima de de cerca de 40 dólares , inviabilizava uma produção e comercialização lucrativa .
2. As energias limpas são mais dispendiosas , não obstante sejam as únicas não nocivas ao meio ambiente e para a saúde dos seres vivos , sendo o seu custo de produção inferior ao que se pouparia em saúde pública . Porém , não podemos esquecer que , a maioria dos países em desenvolvimento , mas também alguns países desenvolvidos ( por exemplo os Estados Unidos de América) , infelizmente e estranhamente , não tratam a saúde como uma prioridade ;
3. dos 195 países que assinaram o acordo de Paris, apenas 147 países ratificaram-no e quer por exemplo a Alemanha , quer a China , os Estados Unidos , ou o Brasil , não tem estado a honrar na íntegra o acordo, em virtude de até 2021 terem comprovadamente financiado e programado novos projectos de energia suja , ainda que no caso dos dois primeiros países , tenha apenas contemplado investimentos internos .
A China e os Estados Unidos foram os únicos países signatários do Tratado de Paris , cujos bancos em 2021 financiaram investimentos para produção de energia fóssil . Na Alemanha, após a reunião do G7 , em Junho de 2022, foram anunciados investimentos para a produção do carvão .
No caso do Brasil, o Presidente Lula da Silva pretende utilizar financiamento do BNDS desse país , para investir no gasoduto Nestor Kirchner na Argentina , de acordo com a e-Globo , de 29/01/2023 . Este investimento a acontecer , tornaria ambos países mais dependentes de uma maior produção de energia fóssil ( suja) futura ;
4. os países em desenvolvimento não estão preparados financeiramente pela proceder à mudança de produção de energia suja por limpa em larga escala , embora muitos pudessem e devessem ( o sol e o vento são gratuitos ) , porque não dispõem de capacidade financeira interna para o efeito.
No no caso de Angola , foi quase sempre sempre a SONANGOL a investir . Os parceiros estrangeiros mobilizavam o financiamento e traziam o ” know how “. Prova disso são dados estatísticos de 2022 , em que o sector petrolífero angolano apresentou um saldo negativo de ( USD 6,183 bilhões ) , em virtude de ter investido USD 6,667,8 bilhões e ter sido autorizada a expatriação de dividendos no valor de USD 13,016,7 bilhões.
5. a rotatividade e carregamento ( conservação de energia ) da maioria dos equipamentos , ainda é superior com as energias fósseis ;
6. para evitar sanções , ainda que exista uma guerra comercial aberta entre os Estados Unidos de América e a China e uma guerra comercial velada entre os Estados Unidos de América e a União Europeia , a verdade é que a deslocalização de empresas da Ásia para os Estados Unidos e para a Europa está longe de ser uma realidade ;
7 . em Angola ( 2o. produtor de petróleo do continente africano ) e nos restantes países produtores de petróleo, ao Norte e ao Sul de África , a dependência do petróleo é indiscutível e mais evidente , essencialmente nos países subsaarianos . No caso de Angola , o petróleo representa cerca de 95% da exportações , cerca de 20% do PIB , o país vive de importações, o Executivo deixou de apostar na exportação de produtos agrícolas e piscatórios , não existe uma indústria desenvolvida , a economia torna-se muito mais vulnerável à oscilação do preço do petróleo, ocasionada por choques externos e é extremamente dependente daquele produto.
Grande parte das receitas já insuficientes , destinam-se ao pagamento da dívida externa . O PIB em 2021 só foi de USD 67,4 bilhões e o per capita cifrou-se em USD 2.300,00 ( menos de 2 dólares por dia se fossem mesmo distribuídos ) . Esses valores tem vindo a declinar desde Dezembro de 2018 , quando o PIB foi de USD 106 bilhões , período em que o preço de petróleo estava mais baixo que nesse ano ( USD 45,82 para o petróleo dos Estados Unidos e USD 54,64 para o Brent ) , segundo dados do FMI ) .
Os países que ratificaram o Acordo de Paris , propõem-se a sancionar as instituições financeiras que ofereçam créditos para a produção de energias fósseis desde 2020 . Em Angola , o sector privado não tem como investir no petróleo e gás e muito menos nas energias renováveis, porque está descapitalizado . O seu maior credor é o Estado , que tem dificuldades em honrar a dívida interna contraída, a não ser que se tratem de protegidos e/ou sócios de alguns membros do regime .
A proposta de criação de um fundo de apoio ao sector petrolífero , que defendi após terem esvaziado o fundo soberano , que se adequaria caso fosse cumprido o seu objetivo primário , de injeção anual de capital proveniente das receitas do petróleo, só seria de mais valia se multiplicado , caso o Estado não abdicasse de garantias privadas aos seus beneficiários e não continuasse a conceder garantias soberanas nem a empresas residentes cambiais , nem a empresas não residentes cambiais .
Acresce-se o facto das RIL ( Reservas Internacionais Líquidas ), até 21 de Abril do corrente ano , cifrarem-se em USD 14,66 bilhões de dólares . Contudo , segundo dados do BNA , esse valor é muito inferior ao apurado no final em 2017 , em que as RIL eram de USD 18,23 bilhões, numa fase de mais severa baixa do preço do petróleo , quando se dizia que os cofres estavam vazios .
Para piorar , segundo o semanário Expansão , ” o Ministério das Finanças , através do Tesouro Nacional, ausentou-se da plataforma da Bloomberg FXGO sem justificar os motivos “.